“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Fernando Pessoa
O período entre o século XV e o início do século XVII ficou conhecido como Era das Grandes Navegações, ou Era dos Descobrimentos. Nesse período, os europeus exploraram intensivamente o mar em busca de novas rotas de comércio. Motivado pelo lucro no comércio marítimo, navegantes enfrentaram o indômito mar em busca de acesso a outras regiões, sobretudo com o Oriente.
Por séculos acreditava-se que o mundo se estendia até Marrocos e que não existia mar ou terras a sul. Ainda assim, enviados pelo Infante D. Henrique, bravos navegadores portugueses romperam o Cabo do Medo (Cabo do Bojador), em 1434, marcando não apenas a navegação, mas a história. Transpor o Bojador derrubou velhos mitos medievais e abriu caminho para os descobrimentos. Em 1488, durante o reinado de D. João II, um novo e importante feito aconteceu: o Cabo da Boa Esperança, localizado no sul da África, foi superado. Expedição essa que permitiu a formação da rota comercial entre as Índias e Portugal, consolidando este como primeiro grande império ultramarino.
Mais de quatro séculos da descoberta da rota marítima que ligava a Europa ao Oriente, o francês Ferdinand de Lesseps idealizou a construção de um canal que reduziria em aproximadamente 7.000 quilômetros a efetivação do comércio entre as duas regiões. O canal seria uma abertura artificial no território egípcio, na Península de Sinai, conectando o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, ligando a cidade de Suez e Porto Said. A obra do Canal de Suez foi iniciada em 1859 e levou 10 anos para sua conclusão.
Apesar de servir para escoar a produção industrial europeia, o Canal de Suez tornou-se um dos maiores símbolos do avanço industrial do ocidente. Um dos canais mais importantes do mundo e, através da navegação, cerca de 12% do comércio mundial passa por ali.
No dia 23 de março deste ano, o navio Ever Given encalhou no Canal de Suez após ser atingido por uma rajada de vento. Com a popa fincada em uma das margens, o navio com mais de 400 metros de comprimento e mais de 200 toneladas provocou um congestionamento naval no canal do Egito. Segundo a Bloomberg, 429 navios ficaram engarrafados na hidrovia egípcia, quase US$ 10 bilhões em mercadorias. O bloqueio do Canal de Suez agrava cadeias produtivas globais de várias mercadorias, como petróleo, grãos e automóveis, além de causar efeitos onerosos para empresas europeias que dependem de um fluxo de importações da Ásia.
Após seis dias de tensão, o meganavio foi desencalhado e voltou a sua rota, mas os efeitos econômicos ainda são imprecisos. Antes mesmo do Ever Given encalhar no Canal de Suez, o comércio internacional já sofria com as consequências econômicas da pandemia. As incertezas são muitas, contudo nós romperemos o Cabo do Medo com a mesma bravura do povo português.
As vacinas oferecem grande esperança para reverter a maré da pandemia, elas desempenham um papel fundamental no retorno do mundo à normalidade. O globo está em campanha de vacinação. Por exemplo, conforme o Our World in Data, os Estados Unidos já ultrapassaram a marca de 170 milhões de doses administradas. A retomada econômica do país é uma realidade.
Com um novo pacote de estímulos aprovados de US$ 1,9 trilhão, o terceiro de grande magnitude desde o início da pandemia, os EUA alcançam US$ 5 trilhões em gastos com programas de ajuda econômica. O FED (banco central norte-americano) prevê que o PIB americano tenha um crescimento de 6,5% este ano, contra uma previsão anterior de 4,2%. Outro ponto, que marca a retomada do consumo, é referente as expectativas para o núcleo da inflação, com uma alta de 2,2% neste ano. Por fim, refletindo o otimismo com a recuperação econômica, o índice da bolsa americana S&P500 subiu 4,2% no último mês.
No Brasil, o aumento dos números de casos, marcando uma segunda onda mais agressiva, as projeções de vacinação e as intempéries políticas geram uma preocupação maior com o cenário econômico e fiscal, evidenciado pelo aumento da taxa de juros futura. Apesar disso, o Ibovespa subiu 6%, acompanhando as altas das bolsas internacionais.
Chegamos à marca de 10% das mortes registradas no mundo e, provavelmente, vivemos o pior momento da pandemia. Contudo, pela primeira vez, o Brasil ultrapassa um milhão de doses da vacina contra covid aplicadas em 24 horas e a espera é que o ritmo aumente nos próximos meses.
O poema de abertura da carta, Mar Português, é um dos poemas mais famosos de Fernando Pessoa. Uma ode ao heroísmo dos primeiros navegantes que se lançaram ao mar contra todas a incertezas. A mensagem que gostaríamos de deixar na primeira carta, em um momento tão sensível, é de força. Lembrem-se que o mar é perigoso, mas é o espelho do céu. Se cuidem!
A cenário no mercado brasileiro ainda se mostra desafiador. O risco fiscal e o desarranjo político na esfera federal competem de frente com a pandemia em contribuição para os riscos no mercado. Após forte queda no mercado acionário brasileiro no começo do ano, o mês de março foi marcado por uma recuperação significativa (6%). Desta forma, os portifólios de Renda Variável tomaram conta na contribuição dos retornos deste mês.
Em contrapartida, os portifólios de Renda Fixa ainda amargam perdas reais (retorno após descontar a inflação). Mesmo com boa performance da carteira em relação ao CDI, a demora para iniciar uma subida do juro pelo Banco Central afundou o CDI em juros reais negativos.
A posição tomadora de risco do BC colocou a instituição em uma posição desconfortável onde, ao mesmo tempo, é necessária uma de subida de juro e de forma rápida e a manutenção de um nível de juro estimulativo, A expectativa é que o BC aumente ao menos mais 0,75% na próxima reunião e que as posições atreladas ao CDI passem a gerar ganhos reais neste ano.
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Sobre o Autor:
Igor Haga
Sócio-fundador da Sapiens Consultoria de Investimentos
Analista de Investimentos certificado pela APIMEC
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