Carta Mensal - Abril 2021
Por Igor Haga - 12/05/2021 05:25
Fonte: Elaboração Própria
O (voo) americano

Dez nomeações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro. Três horas e meia de duração. Uma das maiores produções da Netflix. 180 dias de rodagem. 117 locações diferentes. O encontro de Al Pacino, De Niro e Joe Pesci em um épico guiado pelos rígidosolhos de Scorsese. O Irlandês nasceu clássico.

O roteiro é de Steven Zaillian (A lista de Schindler, Hannibal e Gangues de Nova Iorque), baseado no livro I Heard You Paint Houses, narra a história de Frank Sheeran. No filme, acompanhamos um veterano de guerra, reinserido na sociedade americana como caminhoneiro e sua trajetória até se tornar um dos assassinos de aluguel preferido da máfia.

Baseado em uma história real, o foco das lentes é direcionado às relações entre Frank Sheeran (De Niro) e Russell Bufalino (Joe Pesci), um capo da máfia italiana, e entre Sheeran e o líder sindical Jimmy Hoffa, magistralmente interpretado por Al Pacino. Um quarto personagem, que passa de maneira mais sutil, é o plano de fundo da história, os Estados Unidos. O filme transita entre o cotidiano de mafiosos da década de 30, as conspirações envolvendo o assassinato de John F. Kennedy, o “desaparecimento” de Jimmy Hoffa em 1975 até os últimos dias de Frank Sheeran no início dos anos 2000. São mais de 70 anos de história.

Os resquícios da crise de 29, os efeitos do período pós-guerra e a relação entre política, dinheiro e crime são o palco, o contexto, do que Alan Greenspan (Ex-Presidente do FED) nomeia de “efeitos da destruição criativa” americana. Greenspan, em Capitalismo na América, argumenta sobre a grande habilidade dos Estados Unidos em sobreviver a catástrofes, uma tolerância única as sinistralidades globais.

A destruição criativa é a principal força por trás do progresso econômico, o “vento perene” que arruína negócios, mas cria uma economia mais produtiva. Uma agitação permanente do antigo que dá lugar ao novo, estimulado por novas ideias e novas pessoas. O processo substitui ativos antes produtivos e os empregos ligados a ele por novas tecnologias e pelos empregos criados por elas. Confusa, dolorosa, a destruição criativa elevou o padrão de vida de quase todos os americanos para patamares inimagináveis até para os cidadãos mais ricos do mundo, algumas gerações anteriores.

E novamente a destruição chegou. O número de vítimas da Covid-19 nos EUA soma aproximadamente 580 mil pessoas. No início da pandemia, a taxa de desemprego no país chegou a 14,7% (20 milhões de postos de trabalho), a maior taxa de desemprego em mais de 70 anos. A economia americana sofreu sua primeira recessão em mais de uma década, freando a maior expansão já registrada. Nos dois primeiros trimestres de 2020, o PIB americano contraiu em mais de um terço, o maior declínio de sua história.

“Mas nunca aposte contra a América”, a frase dita por Warren Buffett na penúltima assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway parece uma profecia. Com alto ritmo de imunização, a meta do Presidente americano, Joe Biden, é vacinar 70% da população adulta contra a Covid-19 até dia 4 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos. Estima-se que 56% da população adulta dos EUA tenha recebido ao menos uma dose das vacinas.

E o vigor no cronograma de vacinação americano reflete em outras esferas, pela primeira vez desde o início da pandemia os pedidos de seguro-desemprego ficam abaixo de 500 mil. De acordo com a pesquisa da Reuters, a previsão é de que os EUA criaram mais de 1 milhão de empregos só em abril, o efeito disso é uma queda na taxa de desemprego de 6% para 5,8%.

Além disso, o pacote de US$1,9 trilhão sancionado no início desse ano começa a ser discriminado. Na última quarta-feira, 5 de maio, Biden detalhou o recém-inaugurado Fundo de Revitalização de Restaurantes, um auxílio de US$ 28,6 bilhões para manter de portas abertas o setor mais afetado pela Covid-19.

As bolsas norte-americanas sofreram uma correção após novas máximas históricas, encerrando o mês de abril no vermelho. Ainda assim, o resultado trimestral das grandes tecnológicas impressiona, Apple, Alphabet (Google) e Facebook continuam colhendo os frutos do momento imposto pelo Coronavírus.

Brasil

Infelizmente, a destruição criativa não é um fenômeno comum, do qual as nações podem replicar com a mesma naturalidade de seguir uma receita. Assim como um experimento físico com inúmeras variáveis, a destruição criativa depende dos eventos históricos, da formação geográfica, da composição biológica, das turbulências sociais etc. Dito isso, o restante do mundo se reestrutura da pandemia organicamente, ou seja, de forma mais lenta.

Com base no último relatório semanal Focus, a estimativa de inflação para o Brasil é de 5,06% e a estimativa de crescimento do PIB é de 3,21%. Indícios de uma leve retomada econômica após o desgaste gerado pela pandemia no ano de 2020.

Somado a isso, no Brasil, o ambiente político continua volátil. A “CPI da Covid” e o cronograma de vacinação serão os responsáveis por ditar a tônica do mês de maio.

Cenário

A situação para investimentos de renda fixa, principalmente atrelados ao CDI e pré-fixados, começa a clarear no mês de abril. Com altas sucessivas da taxa básica de juros (hoje em 3,5% a.a.) e uma inflação mais acomodada, este portifólio voltou a entregar rentabilidades reais positivas.

O principal índice de ações brasileiras, o Ibovespa, fechou positivo no mês de abril. Grande parte da contribuição é referente a ações de mineradoras, como a Vale (que possui grande peso no índice), pela forte alta do minério de ferro. Enquanto isso, o real apresentou forte valorização no mês frente ao dólar, o que impacta em posições compradas em dólar e investimentos em ativos dolarizados.

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