O som precede ao aroma. Pequenos estalos gerados do contato entre os fragmentos assimétricos de alho e de cebola, já translucida, em azeite. Em seguida o cheiro aliáceo penetra todos os cômodos da casa definindo o remate do último prato. O perfume da comida de vó é como ressaca marítima, primeiro ganha espaço para depois retornar com vários integrantes da família para a mesma unidade, a cozinha. A entrada do molho de tomate espesso na mistura de condimentos reduz a temperatura da panela, assim, o som da fritura é atenuado e a narração esportiva da TV volta, de forma suave, a integrar a sinfonia do almoço de família. Três batidas da colher na borda da panela e em seguida um grito sem destinatário:
-Tá pronto.
O almoço de domingo talvez seja o evento popular mais democrático do Brasil. Não há diferenciação por cor, credo, classe social e pouco importa se é da família, agregado ou penetra. Yuval Noah Harari, autor de Sapiens: uma breve história da humanidade, define que a fofoca e os atritos foram motores da nossa evolução como sociedade, sendo assim, o almoço de domingo é o darwinismo em cena. Nesse espetáculo, é provável que apenas uma afirmação seja unanime e de apoio irrestrito: o dinheiro não vale mais nada.
Essa percepção individual, da perda de valor do dinheiro, geralmente é atribuída a inflação. No imaginário popular, ela possui sua metáfora perfeita na imagem do carrinho de compras outrora cheio e no presente com poucas mercadorias. A metáfora é boa, mas para ilustrar outro conceito, o custo de vida.
“Então o que significa inflação?”
Do latim, INFLATIO, de INFLARE, “encher, assoprar para dentro de”, é um fenômeno macroeconômico, caracterizado por uma elevação apreciável e persistente do nível geral de preços. É importante notar que o aumento do preço de algum bem ou serviço em particular não constitui inflação, que ocorre apenas quando há um aumento generalizado dos preços. No Brasil, o principal indicador para aferir a inflação é o IPCA, Índice de Preços ao Consumidor Amplo.
O IPCA mede a inflação de uma cesta de consumo de produtos, para famílias com renda entre 1 e 40 salários-mínimos. A coleta dos preços é feita do 1° ao 30° dia do mês em 11 regiões do país. Periodicidade mensal.
Um bom exemplo para se entender o funcionamento da cadeia inflacionária é o panorama econômico brasileiro entre 2001 e 2002. Em 2001, uma das causas principais do avanço da inflação foi o racionamento de energia, medida adotada na tentativa de conter uma crise energética que afetou o fornecimento e a distribuição pelo país. As paradas de produção nas indústrias, decorrentes da campanha pelo racionamento voluntário de energia provocaram a queda da produtividade de modo geral. No entanto, a demanda por produtos manteve-se inalterada. Como resultado, houve pressão inflacionária. Em 2002, uma das principais causas do aumento dos preços foi o câmbio. O cenário político eleitoral agitou o mercado financeiro, levando o câmbio da casa dos R$ 2,60 a R$ 4,00. Essa forte desvalorização cambial encareceu o custo de insumos e produtos importados, pressionando a inflação.
A pandemia Covid-19, e outros fatores estruturais, fizeram com que essa velha conhecida dos brasileiros voltasse à tona no segundo semestre de 2020. O IPCA fechou o ano em alta de 4,52%, acima do centro da meta do Banco Central, de 4%. O índice ficou dentro do intervalo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para 2020, entre 2,5% e 5,5%. Em meio a uma das maiores crises econômicas do último século, somado a taxa de desemprego de aproximadamente 15%, o aumento da inflação gerou alerta.
Conforme a última rodada da pesquisa EXAME/IDEIA 95% da população percebeu os reflexos da alta generalizada de preços. Perceptível em todas as faixas salariais, a inflação foi mais relevante em setores que expandiram na pandemia. O grupo de alimentação, por exemplo, contou com a alta de 18% em 2020, chegando a 103% de aumento médio no preço do óleo de cozinha e 76% no arroz.
Fatores externos, como a alta de quase 30% do dólar no ano frente ao real, além do avanço da demanda por produtos agrícolas em todo o mundo, também foram relevantes para o aumento dos preços.
No acumulado de doze meses até maio, a inflação, atingiu 8,06%, o maior nível desde setembro de 2016, bem acima do centro da meta anual de 3,75% e do seu teto, de 5,25%.
A inflação continua inundando o mercado brasileiro. O IPCA de maio foi de 0,83%, o que continua a deixar negativo os retornos reais sobre o CDI.
Fatores como melhor indicação de retomada da atividade econômica no Brasil, sinalizações de aumento dos juros americanos para o próximo ano e o risco de choques de preços adicionais, como a energia elétrica, forçaram o Banco Central a considerar a possibilidade de um ajuste completo (subida de juros próximo aos 6,5%) e não mais considerar um ajuste parcial.
A instituição deixou claro que deverá ocorrer outro ajuste de 0,75% na próxima reunião mas informou que, caso a deterioração das expectativas de inflação persistam (continuem altas), o ajuste poderá ser acelerado.
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