Carta Mensal - Junho 2021
Por Igor Haga - 21/07/2021 06:39
Fonte: Elaboração Própria
Maiêutica à brasileira

Há muitos homens sobre os quais se sabe muito pouco; outros, sobre os quais conhecemos com minúcia. Para o historiador, Sócrates é um tema difícil. Ele foi, com certeza, cidadão ateniense que ocupou seu tempo ao debate e ensino da filosofia, condenado a morte e executado por volta de 399 a.C., com cerca de 70 anos. Contudo, além desse ponto se iniciam as controvérsias. Praticamente todo o conhecimento sobre Sócrates é proveniente dos escritos de seus dois pupilos, Platão e Xenofonte, declarando, no entanto, coisas distintas.

É unanime que o retrato socrático pintado por Platão é o mais perfeito, porém, nele, o pupilo não apenas descreve o mestre, mas elogia e o conduz a uma glorificação heroica. É através de Platão que conhecemos o método desenvolvido por Sócrates, o método filosófico dialógico conhecido por maiêutica.

A maiêutica socrática tem como significado “parir“ o conhecimento. Sócrates sugere que seus interlocutores procurem os “lugares-comuns“, opiniões formadas sobre um assunto, a fim de usá-lo como ponto de partida para um caminho até a verdade. Para ele, a verdade está latente nos seres humanos, carecendo apenas das perguntas corretas para submergir o conhecimento.

Sócrates foi a principal fonte do pensamento ocidental e seu método lançou as bases para todos os sistemas de lógica e filosofia, além de sua contribuição mais evidente, o Renascimento cultural. Fica evidente que fazer as perguntas corretas guiou o conhecimento humano por mais de dois mil anos.

Na última sexta-feira de )unho, dia 25, o Ministério da Economia enviou sua proposta de reforma tributária e, conhecendo um pouco de filosofia e política brasileira, entendemos que o mais importante desse momento é fazer as perguntas corretas.

A proposta inicial é contraria a todas as especulações ventiladas anteriormente pelo próprio governo, permitindo, inferir que ainda há espaço para ajustes até sua versão final. Qualquer reação exaltada, impetuosa, é incoerente quando se conhece o histórico das dinâmicas da política nacional. Um projeto de reforma é, quase sempre, irreconhecível quando comparado seu formato de origem ao de sua implementação. Simplificar a estrutura tributária, buscar maior isonomia, reduzir os níveis de “pejotização“ e evitar a criação de novos tributos formaram o cerne da proposta de reforma tributária.

Desde seu envio à Câmara, a proposta do governo tem recebido críticas tanto de especialistas do tema quanto de entidades empresariais. Referente ao texto enviado pelo Executivo, a parte mais controversa do PL 2.237/2021, é a tributação de 20% sobre lucros e dividendos. A taxação de dividendos, de certa forma, á estava incorporada ao consciente do mercado, numa equação em que o escalonamento na redução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) seria equilibrado pela tributação de dividendos bem como a eliminação da dedutibilidade do Juros Sobre Capital Próprio (JCP).

Com a Reforma ainda em discussão e uma grande incerteza sobre o molde final desta, ficam mais perguntas do que respostas. O importante é focar nos questionamentos mais relevantes. As mudanças propostas são realmente neutras, ou se)a, o Governo não está aumentando sua arrecadação tributária? A isonomia buscada, reduzindo o impacto dos tributos sobre a parcela mais pobre, é atingida com efetividade? Existe margem para alteração da alíquota cobrada sobre dividendos, de 20% para 15%, por exemplo?

Por fim, a questão mais importante, quando virá a proposta de reforma tributária sobre consumo? A PL 2.237/2021 ajusta parcialmente a regressividade do sistema, mas não de maneira significativa. Os impostos sobre o consumo (PIS, COM-INS, IPI, ICMS e ISS) são os que afetam a parcela mais pobre da população de forma direta e nesta reside quase toda complexidade a ser solucionada.

É cedo para qualquer conclusão e é esperado que se aumente o nível de volatilidade nos próximos meses. Ainda assim, o Brasil apresentou resultado positivo, protagonizado pela apreciação de 4% do real frente ao dólar, bem como o aumento do Ibovespa em 0.5%.

Com positivo cronograma de vacinação pelo mundo, o nível de risco dos mercados globais tem atenuado, caminhando para uma consolidação. Inclusive, a bolsa americana (ShP500) fechou o mês de junho com nova alta, aproximadamente 2,2%.

Seguimos monitorando o mercado em busca das perguntas certas e dos fundamentos confiáveis.


Cenário

Os retornos reais no curto prazo continuam pressionados pela forte inflação e pelo juro real negativo apresentado pelo CDI. O grande vilão para o mês de junho foi a energia elétrica, com alta de 1,95% decorrente das baixas reservas de água nas hidrelétricas e a maior utilização de termoelétricas.

Com isto, houve revisões altistas para a inflação de 2021 no relatório FOCUS (de 6,32% para 6,43%). O mercado futuro de juros também reagiu aumentando as apostas em uma alta de 1,00% para a próxima reunião do Copom.

Contudo, as previsões de inflação para o ano 2022 permaneceram praticamente estáveis, o que coloca em maior dúvida se a aceleração do ajuste (a alta de 1,00% na próxima reunião) realmente acontecerá.


Resultado

Categorias
Carteira de Ações (0) Finanças (9) Investimentos (11) Economia (6) Carta Mensal (9)

Conheça nosso glossário!

Tire sua dúvida com palavras e termos utilizados no mundo do investimento.

Acessar glossário >

O conteúdo do Blog Sapiens não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º da Instrução CVM nº 598/18, tem caráter meramente informativo, não constitui e nem deve ser interpretado como sendo material promocional, solicitação de compra ou venda, oferta ou recomendação de qualquer ativo financeiro, investimento, sugestão de alocação ou adoção de estratégias por parte dos destinatários. Os prazos, taxas e condições aqui contidas são meramente indicativas. As informações contidas no Blog Sapiens foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A Sapiens Consultoria de Investimentos LTDA (“Sapiens”), inscrita no CNPJ: 40.904.853/0001-72, não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. O conteúdo do Blog Sapiens também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As informações de terceiros disponibilizadas no Blog Sapiens não refletem a opinião da Sapiens, de modo que ela não se responsabiliza pela veracidade, exatidão e correção das informações. Os instrumentos financeiros discutidos no Blog Sapiens podem não ser adequados para todos os investidores. Este material não leva em consideração os objetivos de investimento, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor. Os investidores devem obter orientação financeira independente, com base em suas características pessoais, antes de tomar uma decisão de investimento. Recomenda-se uma profunda análise das características, prazos e riscos dos investimentos antes da decisão de compra/venda/aplicação/resgate. É expressamente recomendada a leitura do Regulamento, prospecto, edital e demais materiais de divulgação antes da decisão de investimento, com especial atenção aos fatores de risco. A Sapiens não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. O Blog Sapiens é destinado a rede de relacionamento da Sapiens. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Sapiens. Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor acessar o nosso site: www.sapiens.com.br.