Há muitos homens sobre os quais se sabe muito pouco; outros, sobre os quais conhecemos com minúcia. Para o historiador, Sócrates é um tema difícil. Ele foi, com certeza, cidadão ateniense que ocupou seu tempo ao debate e ensino da filosofia, condenado a morte e executado por volta de 399 a.C., com cerca de 70 anos. Contudo, além desse ponto se iniciam as controvérsias. Praticamente todo o conhecimento sobre Sócrates é proveniente dos escritos de seus dois pupilos, Platão e Xenofonte, declarando, no entanto, coisas distintas.
É unanime que o retrato socrático pintado por Platão é o mais perfeito, porém, nele, o pupilo não apenas descreve o mestre, mas elogia e o conduz a uma glorificação heroica. É através de Platão que conhecemos o método desenvolvido por Sócrates, o método filosófico dialógico conhecido por maiêutica.
A maiêutica socrática tem como significado “parir“ o conhecimento. Sócrates sugere que seus interlocutores procurem os “lugares-comuns“, opiniões formadas sobre um assunto, a fim de usá-lo como ponto de partida para um caminho até a verdade. Para ele, a verdade está latente nos seres humanos, carecendo apenas das perguntas corretas para submergir o conhecimento.
Sócrates foi a principal fonte do pensamento ocidental e seu método lançou as bases para todos os sistemas de lógica e filosofia, além de sua contribuição mais evidente, o Renascimento cultural. Fica evidente que fazer as perguntas corretas guiou o conhecimento humano por mais de dois mil anos.
Na última sexta-feira de )unho, dia 25, o Ministério da Economia enviou sua proposta de reforma tributária e, conhecendo um pouco de filosofia e política brasileira, entendemos que o mais importante desse momento é fazer as perguntas corretas.
A proposta inicial é contraria a todas as especulações ventiladas anteriormente pelo próprio governo, permitindo, inferir que ainda há espaço para ajustes até sua versão final. Qualquer reação exaltada, impetuosa, é incoerente quando se conhece o histórico das dinâmicas da política nacional. Um projeto de reforma é, quase sempre, irreconhecível quando comparado seu formato de origem ao de sua implementação. Simplificar a estrutura tributária, buscar maior isonomia, reduzir os níveis de “pejotização“ e evitar a criação de novos tributos formaram o cerne da proposta de reforma tributária.
Desde seu envio à Câmara, a proposta do governo tem recebido críticas tanto de especialistas do tema quanto de entidades empresariais. Referente ao texto enviado pelo Executivo, a parte mais controversa do PL 2.237/2021, é a tributação de 20% sobre lucros e dividendos. A taxação de dividendos, de certa forma, á estava incorporada ao consciente do mercado, numa equação em que o escalonamento na redução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) seria equilibrado pela tributação de dividendos bem como a eliminação da dedutibilidade do Juros Sobre Capital Próprio (JCP).
Com a Reforma ainda em discussão e uma grande incerteza sobre o molde final desta, ficam mais perguntas do que respostas. O importante é focar nos questionamentos mais relevantes. As mudanças propostas são realmente neutras, ou se)a, o Governo não está aumentando sua arrecadação tributária? A isonomia buscada, reduzindo o impacto dos tributos sobre a parcela mais pobre, é atingida com efetividade? Existe margem para alteração da alíquota cobrada sobre dividendos, de 20% para 15%, por exemplo?
Por fim, a questão mais importante, quando virá a proposta de reforma tributária sobre consumo? A PL 2.237/2021 ajusta parcialmente a regressividade do sistema, mas não de maneira significativa. Os impostos sobre o consumo (PIS, COM-INS, IPI, ICMS e ISS) são os que afetam a parcela mais pobre da população de forma direta e nesta reside quase toda complexidade a ser solucionada.
É cedo para qualquer conclusão e é esperado que se aumente o nível de volatilidade nos próximos meses. Ainda assim, o Brasil apresentou resultado positivo, protagonizado pela apreciação de 4% do real frente ao dólar, bem como o aumento do Ibovespa em 0.5%.
Com positivo cronograma de vacinação pelo mundo, o nível de risco dos mercados globais tem atenuado, caminhando para uma consolidação. Inclusive, a bolsa americana (ShP500) fechou o mês de junho com nova alta, aproximadamente 2,2%.
Seguimos monitorando o mercado em busca das perguntas certas e dos fundamentos confiáveis.
Os retornos reais no curto prazo continuam pressionados pela forte inflação e pelo juro real negativo apresentado pelo CDI. O grande vilão para o mês de junho foi a energia elétrica, com alta de 1,95% decorrente das baixas reservas de água nas hidrelétricas e a maior utilização de termoelétricas.
Com isto, houve revisões altistas para a inflação de 2021 no relatório FOCUS (de 6,32% para 6,43%). O mercado futuro de juros também reagiu aumentando as apostas em uma alta de 1,00% para a próxima reunião do Copom.
Contudo, as previsões de inflação para o ano 2022 permaneceram praticamente estáveis, o que coloca em maior dúvida se a aceleração do ajuste (a alta de 1,00% na próxima reunião) realmente acontecerá.
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