Nos últimos anos, o mercado de apostas esportivas no Brasil vem crescendo significativamente, atraindo cada vez mais usuários e gerando receita para o setor. Com a aprovação da Lei Nº 13.756, no final de 2018, qualquer pessoa com acesso à internet e possibilidade de pagamento eletrônico pode fazer apostas esportivas online de forma oficial. Fenômeno não exclusivo do Brasil, o crescimento desse mercado, de acordo com a Statista, plataforma online especializada em dados de mercado, o mercado global de apostas online deve ultrapassar US$ 1 trilhão até 2024.
No Brasil, a popularidade do futebol é uma das principais razões para o crescimento das apostas esportivas, impulsionado pela Copa do Mundo do Qatar, juntamente com o aumento do público em outras modalidades, como basquete, futebol americano e os eSports. Além disso, a entrada massiva de casas de apostas no país tem fomentado ainda mais o interesse das pessoas nessa modalidade.
Diferente da crença da maioria dos educadores financeiros, de que a popularização do mercado de apostas só tem aspectos negativos para uma população ignorante de conceitos de economia doméstica, acreditamos que esse fenômeno pode ensinar muito sobre o mercado de capitais. Por exemplo:
Considere que um título paga R$100,00 se determinado time vencer a série A do Brasileirão e não paga nada se esse time perder. Probabilisticamente, esse título vale R$100,00 caso o evento seja certeiro (100% de chance) e vale R$0,00 se for impossível (0% de chance).
Qualquer número entre R$0,00 e R$100,00 são vistos como uma espécie de probabilidade de mercado para que determinado time seja campeão. Imagine que o preço deste título neste mês, abril de 2023, pode ser interpretado como a avaliação do mercado para a chance de ser campeão daquele campeonato.
Para fins ilustrativos, consideraremos o São Paulo Futebol Clube como exemplo. No início do Campeonato Brasileiro, em janeiro, foi emitido um título de R$ 100,00 com vencimento ao final do torneio, sujeito ao condicionante de que o São Paulo seja o vencedor. Dado que todos os times possuem o mesmo nível técnico, a probabilidade de vitória do São Paulo no início do campeonato é incerta, ou seja, igual a zero (R$0,00). À medida que o tempo passa, o viés aumenta e a precificação do título se aproxima da realidade, afastando-se da incerteza que caracterizava o início do campeonato. A partir deste exemplo lúdico é possível entender como funciona o componente de incerteza na precificação da renda fixa.
Embora os títulos de renda fixa sejam considerados investimentos de baixo risco, de “valor esperado”, eles ainda estão sujeitos a volatilidade de preço. Isso ocorre porque o preço dos títulos é influenciado por diversos fatores, como a taxa de juros, o risco de crédito do emissor, a inflação e a liquidez do mercado.
A volatilidade dos preços dos títulos de renda fixa pode ocorrer, por exemplo, em situações de aumento ou queda nas taxas de juros.
Quando as taxas de juros sobem, os títulos de renda fixa emitidos anteriormente com taxas menores se tornam menos atrativos, o que pode levar a uma queda no preço desses títulos. Da mesma forma, quando as taxas de juros caem, os títulos de renda fixa com taxas maiores se tornam mais atrativos, o que pode levar a um aumento no preço desses títulos. Por exemplo, se um título de renda fixa é emitido com uma taxa de juros fixa de 5% ao ano e, posteriormente, a taxa de juros do mercado aumenta para 6%, então o valor do título deve cair para que sua rentabilidade fique em linha com as condições atuais do mercado.
Além disso, o risco de crédito do emissor também pode afetar o preço dos títulos de renda fixa. Quando o mercado percebe que o emissor do título está em uma situação financeira instável ou há risco de não cumprir com suas obrigações, o preço do título pode cair.
A volatilidade dos títulos de renda fixa está diretamente relacionada à marcação a mercado, um processo que consiste em avaliar um ativo financeiro pelo seu valor justo de mercado em um determinado momento. Portanto, a marcação a mercado é uma ferramenta importante para refletir a volatilidade dos títulos de renda fixa em tempo real, permitindo aos investidores avaliar o desempenho dos seus ativos de forma mais precisa.
No último mês, O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, decisão que impactou diretamente os investidores em renda fixa. O comunicado do Copom enfatizou as preocupações com a inflação, citando o aumento das expectativas desde a última reunião, a pressão inflacionária global e as incertezas sobre o novo arcabouço fiscal. O tom rígido adotado pelo BC, que não descarta a possibilidade de aumentar os juros se necessário, foi contrário às expectativas de uma queda na Selic já na próxima reunião do Copom, em maio. Na prática, os investidores que buscam ganhos na marcação a mercado foram encurralados no Tesouro Direto devido à abertura da curva futura de juros.
Nesse contexto, a equipe econômica apresentou uma proposta de novo arcabouço fiscal ao presidente Lula, visando o zerar o déficit fiscal em 2024 e um rombo inferior a R$ 100 bilhões em 2023, abaixo do previsto no Orçamento. A ideia é que a regra seja anticíclica e atenue os impactos negativos da economia em momentos de turbulência, mas sem que os gastos cresçam na proporção da receita em períodos de aceleração econômica.
Enquanto isso, outro exercício prático sobre marcação à mercado acontecia nos EUA, quando os líderes do FED reafirmaram sua postura hawkish, impulsionando ainda mais as taxas dos treasuries. Este ciclo de aperto monetário imposto pelo FED foi o responsável por revelar os problemas de liquidez do banco SVB, instaurando o temor de uma possível crise bancária.
Rapidamente, com o objetivo de atenuar os efeitos, as autoridades monetárias, incluindo o banco central dos EUA (Fed), o Tesouro e a FDIC (organização equivalente ao Fundo Garantidor de Crédito - FGC) tomaram medidas para liquidar bancos em dificuldades e fornecer liquidez ao sistema. No entanto, se “o bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no espaço de tempo de semanas”, o que faria uma possível crise crédito?
Na Europa, na tentativa de evitar mais turbulências no mercado bancário global, o Conselho Federal Suíço aprovou uma legislação de emergência que permite a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, por US$ 3,2 bilhões. 7
O Credit Suisse vinha lutando para se recuperar de uma série de escândalos nos últimos anos, incluindo o colapso da empresa financeira britânica Greensill e do fundo de multimercado norte-americano Archegos, que custaram bilhões de dólares e levaram a uma mudança na sua administração. Isso gerou preocupações com a saúde do banco, especialmente em um cenário de deterioração das condições macroeconômicas com juros mais altos e possibilidade de recessão nas principais economias globais.
O presidente do UBS, Colm Kelleher, destacou as "enormes oportunidades" que surgem com a aquisição e elogiou a "cultura de risco conservadora" do seu banco - em contraste com a cultura do Credit Suisse, conhecido por apostas mais arriscadas e maiores retornos. Kelleher afirmou que o grupo combinado criaria uma gestora de patrimônio com mais de US$ 5 trilhões em ativos totais investidos.
O cenário no mercado americano começa a demonstrar ânimo após o dado do IPC americano vir abaixo do esperado. O dado para o mês de março foi de 0,1%, com 5,0% acumulado nos 12 meses. A possibilidade considerada pelo mercado é de que o aperto monetário do Fed está fazendo efeito e que ficou maior a probabilidade de um pouso suave (controle da inflação sem uma forte recessão). Contudo, ainda é cedo para dar tal cenário como certo.
No Brasil, o IPCA em março subiu 0,71%, acumulando uma alta de 4,65% em 12 meses. Apresentando um núcleo mais controlado, o dado trouxe boas notícias, demonstrando uma inflação que parece sofrer os efeitos da política monetária restritiva.
Os mercados de juros futuros passaram a digerir tanto o IPCA quanto a divulgação do arcabouço fiscal, gerando quedas nas taxas ao longo de toda a curva.
O índice de ações americanas em real (IVVB11) apresentou leve alta (0,2%), o IBOV fechou o mês de março com queda de 2,91% e o IFIX com queda de 1,69%.
A crescente elevação das incertezas durante o ano nós levaram a aumentar a posição em renda fixa conservadora para os clientes, aproveitando da elevação dos juros brasileiros e ditando um maior conservadorismo nas carteiras.
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